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MATURIDADE E TRABALHO

A ANTIGA E ALMEJADA “APOSENTADORIA”

PROJETO HÉRCULES

Para apresentar a jornada humana do nascimento até a morte, Jung desenhou uma metáfora, a partir do curso diurno do sol, ele diz:

 

“Pela manhã, ele emerge do mar noturno da inconsciência e contempla o vasto mundo luminoso que está à sua frente, numa vastidão que se abre aos poucos, à medida que se eleva até o alto do firmamento. Nessa extensão do seu campo de ação formado pela sua própria ascensão, o sol irá descobrir o seu próprio significado: assistiria ao atingir da sua altura mais elevada possível e à difusão mais ampla dos seus benefícios, que são a sua meta. Nesta convicção, o sol segue o seu curso até o zênite imprevisto, porquanto seu percurso é único e individual, e o ponto culminante não poderia ser calculado de antemão. Quando atinge o meio-dia, começa a descida. E esta descida representa a inversão de todos os ideais e valores acalentados pela manhã. O sol entra em contradição consigo mesmo. É como se, em lugar de emitir os seus raios, ele os recolhesse. A luz e o calor diminuem e, por fim, acabam se extinguindo... para a nossa própria felicidade, nós não somos nenhum sol que nasce e se põe... entretanto, existe algo parecido com o sol dentro de nós...”. (JUNG, 1984, p. 417)

Não é pouco ultrapassar a linha divisória que separa a primeira da segunda metade da vida, o amanhecer e o anoitecer da vida, usando a metáfora junguiana. Na maturidade, deveríamos nos sentir como os deuses do Olimpo, reconhecidos por suas façanhas e poderes.

 

Ultrapassamos barreiras, vencemos desafios, acumulamos conhecimento, criamos um patrimônio emocional de valores incalculáveis, portanto merecemos um lugar especial e um premio pelo caminho percorrido.

 

Mas, para que possamos desfrutar dessa posição privilegiada temos que nos atentar para os aspectos sombrios da idade avançada e nos preparar para essa grande jornada. Para que esses aspectos se transformem em ganhos são necessárias ações planejadas no decorrer da vida. Se por um lado cuidar do corpo e do espírito implica em regras básicas para dar suporte às transformações da idade, por outro também é necessário que se observe as condições externas para que se viva com mais conforto e dignidade possíveis.

No artigo “Aposentar-se ou Continuar Trabalhando? O que Influencia essa Decisão? ”os pesquisadores FRANÇA, L. H. F. P; MENESES, G. S.; BENDASSOLI, P. F.; MACEDO, L. S. S., estudam as possíveis variáveis que afetam a decisão sobre trabalho e aposentadoria.

 

Eles analisam três possibilidades, a saber: (1) a permanência do trabalhador por mais tempo na organização, (2) a saída definitiva do mercado de trabalho e (3) a passagem para outro trabalho após a desvinculação do emprego formal.

 

A pesquisa conclui que aspectos como o trabalho em si, políticas internas de RH, níveis de autonomia, condições de saúde, renda familiar, personalidade, dentre outros, atuam na decisão pela aposentadoria.

No que se refere a permanência do trabalhador por mais tempo na organização, o estudo apontou para a importância de fatores como: percepção de sentido e de importância do trabalho, autonomia e flexibilidade de horário possível.

 

Quanto à saída definitiva do emprego, o estudo demonstrou relação direta com fatores associados ao estresse e carga excessiva de trabalho.

 

A necessidade de sentir-se produtivo, fator relevante para sua identidade, aciona o trabalhador a passar para outro trabalho, após a desvinculação do emprego formal.

 

O estudo ainda apresenta alguns desafios no que se refere à realidade brasileira especificamente. Um deles é a importância de políticas públicas e internas que conscientizem empresários e trabalhadores sobre a necessidade da permanência motivada dentro da empresa por mais tempo, considerando o aumento da expectativa de vida como uma realidade já presente e indiscutível. Uma vez que flexibilização de horário e autonomia são requisitos que retardam a saída de trabalhadores mais velhos e, portanto, mais experientes, é preciso que as empresas adotem estratégias especiais e o país atualize suas leis trabalhistas.

 

Finalmente, o trabalho conclama uma união de todas as partes envolvidas nesse processo para que se discutam, além dos aspectos mencionados, o fator preconceito para com as pessoas mais velhas que desejam continuar no mercado de trabalho.

O fenômeno da aposentadoria hoje

 

No seu livro, “Adeus, Aposentadoria” o economista Gustavo Cerbasi afirma que a concepção mais comum da palavra “aposentadoria” está ultrapassada, levando-se em consideração o estilo de vida que a maioria das pessoas almeja na contemporaneidade.

 

Há três ou quatro décadas atrás, “aposentar-se” era a meta final de um projeto de vida que se sustentava no desejo de desfrutar a vida, com certa independência, apenas com os recursos da previdência pública e dos complementos gerados pelo saque do Fundo de Garantia. Para Cerbasi, essa realidade não existe mais e a aposentadoria hoje marca o início de uma etapa que pode ser longa a ponto de gerar incertezas sem uma previsão de como será.

Com os avanços da medicina, permitindo que se viva mais, com a falência dos planos públicos e a instabilidade dos planos privados, é preciso adotar um novo modelo para planejar o futuro, que recaia sobre um planejamento antecipado e uma educação financeira constantemente atualizada. Só assim seria possível conciliar a aposentadoria com as condições e exigências da velhice, suas motivações e sonhos ainda a serem realizados.

 

Na análise entre 1980 e 2013 o especialista verificou que o Brasil está passando por um processo de envelhecimento populacional, ou seja, o aumento da média de idade de sua população. Nessa perspectiva o Brasil precisa preparar-se para esse envelhecimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que, até 2050, o Brasil será o sexto país do mundo com maior número de idosos. O país deverá chegar a 2050 com cerca de 15 milhões de anciãos, dos quais 13,5 milhões com mais de 80 anos.

O envelhecimento populacional tem se refletido também na força de trabalho. A cada ano aumenta o número de postos ocupados por pessoas com mais de 40 anos. A retenção desses profissionais no mercado de trabalho será necessária não apenas por questões relacionadas ao equilíbrio das contas da Previdência Social, mas como alternativa para a escassez de mão de obra especializada e à sustentação do crescimento econômico.

 

Para as empresas, esse envelhecimento da força de trabalho trará claros desafios relacionados ao aumento dos custos de saúde, a políticas e gestão de RH, e a questões geradas pelo preconceito. Por outro lado, se considerarmos a experiência acumulada, lealdade ao empregador e postura ética alicerçada por crenças e valores cultivados na maturidade, constatamos inegáveis benefícios às organizações.

 

Diante dessa realidade, a aposentadoria hoje se constitui num fenômeno complexo que envolve decisões individuais e de toda a sociedade. A velha fórmula “trabalhar muito para gozar depois” deixou de funcionar, exigindo a adoção de um modelo mais realista para se planejar o futuro.

 

Enfrentar essa passagem da meia idade e todos os desafios próprios dessa transição biológica, emocional e social equivale ao que na mitologia se conhece como “Os Doze Trabalhos de Hércules”. A trajetória de Hércules foi árdua, mas seu comprometimento, coragem e aceitação das adversidades fizeram dele um herói, acima de tudo um sábio que aprendeu com as vicissitudes da vida.

Projeto Hércules

 

Este trabalho tem como proposta principal oferecer apoio cognitivo e emocional para as pessoas interessadas em lidar com complexidades em seus projetos de trabalho na fase madura da vida.

 

Considerando as questões apontadas no texto introdutório, que ressalta algumas particularidades típicas da segunda metade da vida, somadas a aspectos sociais e culturais contemporâneos, percebe-se a importância de um monitoramento no âmbito do trabalho, para tornar essa jornada a mais equilibrada e confortável possível.

 

A Arte como minha experiência e especialidade tem um papel importante neste trabalho. Ela, na sua manifestação mais pura, livre dos automatismos, pode romper com as barreiras impostas pela racionalidade. Por outro lado, a Arte pode contribuir para a manifestação de características opostas tais como: estado meditativo, compreensão de relações metafóricas, intuição e atemporalidade, que são atributos primordiais para o vislumbre da criatividade e uma visão mais abrangente da realidade, qualidades necessárias para a elaboração de um projeto de vida que contemple o futuro.

Objetivos:

Ajudar as pessoas na tomada de decisão quanto à questão do trabalho e aposentadoria, por meio de uma metodologia específica composta por tarefas, reflexões, leituras, pesquisas e exercícios direcionados ao foco.

 

Aprofundar sobre as possibilidades diante da iminência e/ou desejo da mudança: a permanência por mais tempo no trabalho formal; a saída definitiva do mercado de trabalho e a passagem para outro trabalho como continuidade de desenvolvimento profissional, dentre outras.

 

Analisar o cenário no qual a pessoa está inserida, tendo como referência aspectos individuais como: idade, percepção de saúde, expectativa subjetiva de vida, relacionamentos familiares, status e condição financeira.

 

Perceber a influência dos aspectos psicológicos, dados de personalidade, presença de valores e crenças que podem atuar como fatores impeditivos e/ou impulsionadores para uma mudança significativa de vida.

 

Elaborar um projeto pessoal que contemple desejos e expectativas balizados por dados concretos de realidade.

Público-alvo

Pessoas que buscam alternativas viáveis de trabalho, adaptáveis às exigências e características próprias da maturidade.

 

Versões

Individual e grupal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CERBASI, Gustavo. Adeus, Aposentadoria. 1 ed. São Paulo: Sextante, 2014.

 

FRANÇA, L. H. F. P.; MENEZES, G. S.; BENDASSOLI, P. F.; MACEDO, L. S. S.Aposentar-se ou Continuar Trabalhando? O que Influencia essa Decisão? Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, 2013. Disponível em:http://www.scielo.br/pdf/pcp/v33n3/v33n3a04.pdf. Acesso em: 21 mar. 2016.

 

CERBASI, Gustavo. Adeus, Aposentadoria. 1 ed. São Paulo: Sextante, 2014.

 

FRANÇA, L. H. F. P.; MENEZES, G. S.; BENDASSOLI, P. F.; MACEDO, L. S. S. Aposentar-se ou Continuar Trabalhando? O que Influencia essa Decisão? Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pcp/v33n3/v33n3a04.pdf. Acesso em: 21 mar. 2016.

 

JUNG, C. G. As Etapas da Vida Humana. Obras Completas. Vol. VIII. Petrópolis: Vozes, 1984.

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